quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Controle emocional


Mantém o teu controle emocional em todas as situações.
Sistema nervoso alterado, vida em desalinho. 
Se dificuldades ameaçarem o teu equilíbrio, utiliza-te da oração. 
A prece é medicamento eficaz para todas as doenças da alma. 

(Livro Via Feliz) 
Joanna de Ângelis e Divaldo P. Franco

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Confissões do Dr. Carlos Bayma

Ator do Blog Dr. Bayma (BDB) – médico com formação em Urologia e, mais recentemente, diz transitar pelas áreas de Saúde Quântica, Psicossomática e Metafísica da Saúde, sem ter abandonado a formação original





"A Síndrome do Pânico quase acabou comigo!"
    Sempre fui muito saudável. Minha família, dos dois lados, tem uma genética espetacular e longeva. Meu pai tem 83 anos e toma apenas um comprimido para a leve hipertensão arterial que possui, de uns cinco anos para cá. Joga tênis 4 vezes por semana, sendo duas delas em quadras descobertas na praia de Boa Viagem. Minha mãe tem 81 anos e anda 5 km diariamente, além de Pilates duas vezes na semana. Mal sabe ela o que é medicamento.    Estava recém-casado e minha esposa – à época – estava no 6º ou 7º mês de gestação. Tudo corria bem em casa (ou, pelo menos, aparentemente). Encontrava-me bem empregado, formando uma nova sociedade num clínica de urologia e não tinha problemas financeiros. Estava com 30 anos e não usava nenhum tipo de medicamento. Jogava bola e tocava bateria como meus amigos nos finais de semana. Até então, jamais havia usado ansiolíticos (calmantes, tranquilizantes) nem antidepressivos.    Em termos de doença, mal me lembro das que tive, exceto por uma Hepatite A em 1979 e uma úlcera gástrica em 1983, quando estava absolutamente estressado com o curso de Medicina que eu fazia. No mais, nada! Ressalto que a úlcera só ocorreu nessa época e foi curada em curto tempo. E nunca mais voltou! Hoje nem sei o que é azia.    Entretanto, já como médico, em 1994, fui apresentado a uma enfermidade cruel e potencialmente incapacitante. Trata-se da Síndrome do Pânico (SP) ou Transtorno do Pânico (TP). Para quem não sabe o que é, sugiro que leiam aqui sobre o assunto.    Formei-me em Medicina no final de 1988. Durante o ano de 1989 servi como oficial médico do Exército Brasileiro. A partir de 1990 até 1993 fiz Residência Médica em Urologia, no Hospital Getúlio Vargas (Recife-PE). Nesse mesmo ano fiz pós-graduação em São Paulo, na AACD e na Unifesp.
O início
      Era uma segunda-feira, cheguei em casa perto da 20h. Estava cansado, exausto, mas estava tranquilo. Só queria tomar um banho, jantar e dormir. E assim o fiz. Por volta de 1h da manhã acordei com uma sensação horrível. De imediato imaginei: “Estou tendo um ataque cardíaco e vou morrer nos próximos minutos!” Senti uma sensação de vazio enorme, como se minha mente estivesse fora do corpo. O coração estava disparado e sobrevinha uma sensação de dificuldade para respirar. Comecei a suar e a ter náuseas terríveis. “Pronto! Chegou minha hora”, disse eu, complementando: “Vou morrer. Espero que seja rápido!”.Serviço de Emergência    Corri para o elevador, peguei o carro e segui em disparada para uma emergência cardiológica (quem já viu alguém à beira da morte correr e dirigir carro!). Chegando ao hospital, já não me sentia tão mal. Pensei que era pela segurança do socorro necessário à mão (mas não era; as crises duram geralmente de 15 a 30 minutos, independente dos fatores que as cercam). Fui medicado com um Lexotan após comprovação que meu coração funcionava perfeitamente.    Voltei para casa as 2h30 da manhã, com certo medo, mas falsamente tranquilo pela ingestão do tranquilizante. Nos meses seguintes, nada mais aconteceu. Até que, segundo ataque. Terceiro, 4º, 5º, etc. Em um mês muitos ataques de pânico. A sensação que predomina é esta: “Estou sem saída!”. Por fim, as crises eram tão frequentes que fiquei impossibilitado de trabalhar e- até mesmo – de sair de casa. Não é raro nesses casos a superposição de um quadro de depressão (ou pânico e depressão são irmãos siameses?!). E a depressão chegou. Fulminante! Em 3 ou 4 dias eu estava na cama, literalmente. Sair para urinar era um sacrifício hercúleo. Comida dava náuseas. O sono é uma droga. Ouvir vozes é um tormento. Aí começaram os preconceitos (conceitos formados apressada e superficialmente, quase sempre errados): “Você tem que reagir!” “Não se entregue!” “Lute. Tenha fé que você sai dessa!”
Se não sabe como ajudar, não ajude!
    Deixem-me dizer uma coisa para vocês que têm um parente ou um(a) amigo(a) com depressão: jamais digam essas baboseiras. Não ajudam em nada! Ao contrário, só pioram as coisas, pois tudo isso só faz o deprimido se sentir – embora não seja verdade! – um fraco, inútil e inadequado, incapaz de uma reação, aparentemente óbvia e simples. Existe uma dessas baboseiras que considero a pior: é quando sua situação é comparada com a de outros, tais como àqueles que estão com câncer e continuam rindo, criancinhas que passam fome, mendigos que dormem na rua, mães que perderam filhos, etc. Não é adequado comparar. Não há como comparar. Não estar na pele do(a) depressivo(a) é por demais fácil para se falar o que se quer, mesmo que intenção seja boa. Mas intenção boa pode atrapalhar. Se não exatamente o que fazer ou dizer, não diga ou faça nada! Apenas fique junto: mostre-se solidário, mas calado. Só responda!"Antidepressivos: a ilusão do bem estar!"    Antidepressivos: um mal necessário?    Pois bem, depois de muito sofrer, emagrecer 4kg em 10 dias e não encontrar sequer um lampejo de saída, fui apresentado ao mundo psiquiátrico/psicológico e aos antidepressivos. E o pior: os antidepressivos, promessa de solução, pelo menos paliativa, piora a depressão nas primeiras 2 a 4 semanas até que comece a fazer efeito. Não queiram saber o que é tomar um remédio tido como salvador, mas que traz efeitos colaterais terríveis nas primeiras semanas. Além de deprimido, eu passei a ter dificuldade para urinar, fiquei com constipação intestinal, meu coração disparava o tempo todo e a boca era uma secura só. Tem mais: libido zero, ereção sofrível e ejaculação ausente. Foi assim no primeiro mês.    E o céu começa a se abrir, mas ainda existem nuvens carregadas rondando    Depois do primeiro mês, as coisas se acalmaram. Já não me sentia tão pra baixo e as crises cessaram. O problema é que eu estava tomando um antidepressivo antigo, da classe dos tricíclicos, chamado Clomipramina. Os efeitos colaterais relatados acima cederam um pouco, mas surgiram outros: uma fome gigantesca e ondas de calor alternadas com sensações de frio (distermia, ou seja, distúrbio da temperatura corporal). Quando entrei em depressão tinha 67kg. No auge do sofrimento, estava com 59kg. Três meses após o início da Clomipramina, eu já contava com 74kg (cheguei a estar com 89kg, tempos depois).    Bom, pelo menos não estava mais depressivo (ao contrário, fiquei até meio eufórico) e as crises de pânico pareciam se diluir no tempo. De certa forma era um vantagem: gordinho, com pouca “potência”, mijando lentamente, evacuando com dificuldade e só a cada 3 dias (antes era diário e sem dificuldade), comendo de tudo e sem saliva, mas já conseguia trabalhar e resgatar parcialmente as atividades sociais e familiares. Apesar da aparente calmaria, considero o relato do parágrafo acima uma verdadeira “bomba-relógio”. E era! Só não explodiu, mas chegou perto…
"Angústia e ansiedade não são inimigas!"    Aceitação! Essa é a palavra chave na depressão / síndrome do pânico. Tira toda a resistência, deixa fluir, facilita tudo! “Lutar contra”, “Vencer a” depressão: caminho equivocado. Como você, pobre mortal, cheio de superstições, crenças falsas e fragilidade mental e emocional, vai lutar contra a depressão? Você não tem força nem pra sair de casa, como vai vencer a depressão?    Aceitar que está em depressão é o grande passo. Quem disse que a depressão e a síndrome do pânico são suas inimigas? De onde vem a ideia maluca de que a depressão é só um problema bioquímico do cérebro? Pergunto: o que provocou essa redução dos neurotransmissores em seu cérebro? Genética? Duvido!!!    Você já viu uma vaca em depressão? Ou um cachorro (gato, papagaio, etc.)? (Eles têm cérebro!) Cachorro eu já vi, mas só aqueles que convivem com seres humanos igualmente depressivos, paranoicos.        Há um tempo, escrevi para o blog De Caso Com a Medicina, da jornalista Cristina Almeidasobre Angústia e Ansiedade, gatilhos da Depressão e do Pânico. Leia abaixo e opine:<< Durante quase toda minha vida convivi com um software cerebral chamado LUTAR CONTRA. Havia em mim a crença de que a situação, ou pessoa indesejada, tratava-se de um oponente que devia ser combatido. Eu criava os inimigos em minha mente, e eles tinham que ser combatidos e derrotados. Só assim eu seria feliz.Entretanto, há alguns anos li a seguinte frase: “Quem é batalhador, lutador, guerreiro, está na guerra. E quem está na guerra, não pode estar na paz”. Em geral, as pessoas lutam contra alguém ou algo. E o interessante é que o objeto da luta, quando é confrontado, só tende a crescer. Percebi também que, se dele tentamos fugir, ele ganha maior espaço e força, transformando-se num inimigo perseguidor.Isso gerou um dilema: luto contra, ou fujo? Haveria uma terceira via? Na verdade, sempre há, mas ela não deve ser chamada de terceira, pois é, sim, a primeira e mais adequada via. Em vez de partir para a luta, fiz algo diferente. Aproximei-me do inimigo, e o observei longa e atentamente. Por que ele estava aqui? Por que não desgrudava de mim? Quem o colocara dentro ou perto de mim?Após ter respirado profunda e lentamente, me deixei levar, como alguém que desce um rio sem tentar remar contra a maré. A névoa foi se dissipando, as cortinas lentamente se abriram e fui entendendo tudo, compreendendo suave e euforicamente que não havia inimigo algum. A ansiedade que eu sentia, até no sono e nos sonhos, não era minha oponente. A angústia que machucava não estava ali para me punir. Com o passar do tempo, aprofundando cada vez mais, percebi que ambas eram até gente boa. Se eu sentia angústia e ansiedade, essas emoções eram criaturas que eu nutria e estimulava dia após dia. Elas não faziam parte do meu mundo exterior.Angústia e ansiedade não são inimigas; são sintomas de autoabandono!Então, o grande insight. A angústia e a ansiedade, de fato, eram minhas amigas! Portanto, não havia razão para lutar ou fugir. Parei para ouvi-las. Escutei-as atentamente. E a angústia me disse: “Eu sou sua memória, seu passado. Nasci quando você se achou inadequado, fracassado ou derrotado. Quando sentiu culpa ou vergonha de atitudes, pensamentos e sentimentos e tentou escondê-los de si e dos outros. Não sou seu juiz, nem seu carrasco. Só quero que saiba que não há do que se envergonhar ou se culpar, pois você fez aquilo que estava ao seu alcance, com os elementos de que dispunha na época. Perdoe-se, e esqueça tudo. Não há pendências, mas se ainda julgar que há, repare-as”.Em seguida, veio a ansiedade, que foi clara e direta: “Eu sou o seu futuro, suas expectativas, preocupações e ilusões. Mas, de verdade, ainda não cheguei, pois você está no presente. Portanto, ainda não existo. E mais, nunca existirei, porque quando chegar a mim, serei o presente e, bem rápido, serei passado. Só há vida no agora. A vida é uma sequência de agoras. Só isso. Não há com o que se pre…ocupar. Desça o rio sem resistência, sem batalhas. Apenas desça. Confie na incerteza, pois o rio certamente chegará ao mar”.Há quatro anos, após um grave acidente de trânsito, que me deixou em coma por algum tempo, despertei e compreendi: angústia e ansiedade são, na verdade, avisos, sinais de alerta. Por isso, não são oponentes. Não há porque lutar, muito menos fugir. Para mim, essas emoções apenas sinalizaram o quanto abandonei a mim mesmo. E, o mais importante, tiveram a função de me recolocar no único lugar e momento em que eu posso verdadeiramente Ser: no presente, no agora!>>
"LUTAR CONTRA é um mau negócio!"
    Após a estabilização da depressão e o controle artificial das crises de pânico com remédio, iniciei – interiormente – uma “cruzada” para abandonar o antidepressivo (Clomipramina). Só relembrando, o quadro de transtorno do pânico seguido de depressão eclodiu em 1994. Em 1997, resolvi parar o antidepressivo. Pelo fato de ser médico, sabia que o “desmame” do medicamente deveria ser lento. Tomava a dose de 75 mg de Clomipramina por dia. Baixei para 50. Tudo bem. Semanas depois, para 25 mg / dia: tudo ok e comecei a emagrecer. Perdi uns 8 kg. Mais algumas semanas, retirei o antidepressivo.    Nos seguintes 30 dias a sensação foi maravilhosa. Sem depressão, sem ataques de pânico e fiquei magro como sempre fui. Recuperei a libido e parte da capacidade de ereção perdida nos 3 anos anteriores. Contudo, após essa breve “lua-de-mel” com a normalidade, notei que eu comecei a me irritar facilmente. Fui ficando mal humorado e agressivo. Então, certo dia: crise de pânico! Na verdade, não foi muito intensa e logo passou. Mas foi uma ducha de água fria.
Aparente falha
    Voltei à psiquiatra e, como estratégia, não voltamos à Clomipramina. Iniciei outra droga (droga mesmo!): a Sertralina. Aí o “pau comeu!” Fiquei brabo que só um “siri na lata”. Queria brigar com todo mundo e explodia a cada mínima contrariedade. Perdi a capacidade de administrar as frustrações. Então, sem saída, de volta à Clomipramina, o único antidepressivo que me deixava aparentemente ajustado. Novamente aos 75 mg diários.    1998. Num rompante, suspendi novamente a Clomipramina. Estava decidido a não voltar. Passei cinco meses em um psicólogo de tendências espiritualista. Aguentei o que pude com tristeza profunda e ataques de pânico. Foi quase meia ano numa luta desgraçada. Não suportei. Voltei à psiquiatra e à Clomipramina. Parei de lutar e aceitei que tinha que tomar antidepressivos para o resto da vida. Fiquei assim por mais 4 anos, sem crises, mas sem muito gosto pela vida. E com boca seca, além de continuar a ganhar peso. Atingi quase 90kg.Não há guerra, particular ou coletiva, que traga uma vitória verdadeira!    Finalmente, o insight
    No final de 2002, tive um insight! Um insighté uma compreensão interior, aparentemente vinda do nada e que permite a resolução de várias dúvidas e situações conflitantes de uma lapada só. Percebi que eu estava “lutando contra”. E, “lutar contra algo” é só uma forma inconsciente de dar força a esse “algo”. O mundo está lotado de exemplos: luta contra a violência só a aumenta, luta contra as drogas: nunca se consumiu tantas drogas nesses últimos 20 anos; luta contra as doenças: só vejo doenças se alastrando, sobretudo as crônico-degenerativas (câncer, hipertensão, diabetes, artrites, lúpus, esclerose múltipla, etc., incluindo a depressão). “Lutar contra” é ir contra a corrente. É aí que o insight esclarece: luta é batalha, é guerra, é desequilíbrio.
É paz ou é guerra?
    Quem está na luta não pode – jamais – estar em PAZ! E a paz é tranquila, aceita e renova aquilo que desequilibrou. A paz traz à tona a responsabilidade por nossos atos, pensamentos e sentimentos. A paz diz: “Você é responsável por sua vida, é o condutor único de seu barco no rio atribulado da vida!” Pronto, fiquei preparado para a nova fase: a da aceitação e reversão pacífica dos danos que eu – e somente EU – causei a mim mesmo, embora inconsciente disso.(as alternativas de estabilização autoconsciente se multiplicaram; deixar de tomar antidepressivos e não ter mais depressão e pânico foram apenas consequências) "Assuma a responsabilidade por tudo que diz respeito à sua vida"    Alguns pontos básicos, em minha opinião, são fundamentais para superação da depressão e do transtorno do pânico. Veja que não falei em “controle” da depressão ou “driblar” o pânico. Nem falei em “cura”, pois a susceptibilidade de apresentar novas crises estará, pelo menos em teoria, sempre presente. Então, vamos lá:- Aceitação: esse é o primeiro ponto. Aceitar que está enfermo, não importa o quanto sua mente queira contestar. A mente quer partir para a luta. A alma quer mostrar-lhe que está em um caminho errático, doloroso e desnecessário. Quanto mais “lutar contra” mais a depressão e o pânico se fortalecem. Não lutar não significa ficar passivo. Então, aceite que está doente e que precisa de ajuda.- Entendimento: se você não compreendeu ainda por que está com pânico e depressão, não terá como superá-los. Isso é ponto pacífico. Entender que você mesmo(a) construiu, tijolinho por tijolinho, o quadro enfermo atual traz um pouco mais de lucidez nesse momento difícil. Mas atenção: não se culpe nem se puna. Apenas observe o que fez da sua vida.- Responsabilidade: tire de qualquer pessoa, fato, crença ou situação a responsabilidade pela sua doença. Traga-a toda para si. Além de ser absolutamente ineficaz culpar pai, mãe, parentes, amigos, inimigos, o Governo, as religiões ou Deus, essa atitude atrasa demais sua possibilidade de superação.- Cerque-se de pessoas que queiram e possam ajudá-lo, mas lembre-se: você precisa ajudar-se também. Exige alguma disciplina e empenho. Jamais se escore no outros e delegue a eles aquilo que você tem e precisa fazer. A cada melhora, ouse um pouco mais: vá mais à frente.- Medicamentos: os antidepressivos a ansiolíticos podem ser necessários. Se sua situação exigir, use-os sob orientação médica especializada e sem preconceitos. Mas nunca faça dos medicamentos sua muleta eterna. Fazendo isso, as causas da depressão e do pânico continuarão intactas e, o pior, se fortalecerão, crescerão, sem dar avisos.- Estas são dicas de ouro, que discorrerei nos próximos posts: atividade física regular, mudança de hábitos alimentares, banir o consumo de álcool, acupuntura, ioga, treinamento da coerência cardio-cerebral  dessensibilização e reprocessamento cerebral pelos movimentos oculares, meditação e psicoterapia.

Falsa alegria

 psiquiatra e psicanalista Rubens Hazov Coura em uma entrevista cedida a revista ISTOÉ alerta que os antidepressivos podem levar o doente a subestimar os problemas e a transferir suas culpas para os outros.


O psiquiatra e psicanalista Rubens Hazov Coura, 50 anos, estuda há mais de 20 as pessoas que tomam antidepressivos. Formado pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), sua principal tarefa é analisar com muita atenção os relatos dos pacientes que sobem até o 19º andar do Conjunto Nacional, na avenida Paulista, em São Paulo, e se deitam no divã preto de seu pequeno e aconchegante consultório, equipado com um frigobar sempre abastecido de água e refrigerantes light. Foi a partir dessa análise que Coura se deu conta e identificou dois efeitos nocivos dos remédios antidepressivos: a indiferença e a persistência da destrutividade. "São efeitos terríveis. Não são evidentes e o paciente não fala deles", diz. Essas descobertas, que fazem parte de suas atuais pesquisas para a tese de doutorado, o uso abusivo dos antidepressivos e as falhas nos diagnósticos de quem sofre de depressão estão nesta entrevista concedida por Coura a ISTOÉ.


ISTOÉ - Quais são os efeitos nocivos dos antidepressivos?
RUBENS HAZOV COURA  - São dois efeitos terríveis, diferentes dos efeitos colaterais do antidepressivo. Um deles é o fato de a pessoa ficar aquilo que os familiares chamam de indiferente. Ela não está mais deprimida, não fica chorando todos os dias, sem querer sair de casa. Mas ela fica outra pessoa. Isso é um horror. É abominável.

ISTOÉ - Como é essa indiferença?
RUBENS HAZOV COURA - O paciente fica como se fosse uma outra pessoa porque o antidepressivo induz a um contentamento que não depende dos fatos da vida. Ele não fica contente porque conseguiu se formar na faculdade, porque teve um bom resultado no trabalho ou porque a família vai indo bem. Não fica feliz porque conquistou coisas, que é o natural. Ele se contenta por ação química. Os fatos da vida dele são os mesmos. E também não houve um amadurecimento emocional para aceitação de eventuais fatos nocivos e desagradáveis. Está tudo igual. O medicamento induz ao contentamento indiscriminadamente. Por isso que digo que é a ação do antidepressivo. 

ISTOÉ - Isso é maléfico?
RUBENS HAZOV COURA -Pode ser muito maléfico porque a pessoa, muitas vezes, não fará as coisas que tem de fazer para obter um contentamento na vida. 

ISTOÉ - Por exemplo?
RUBENS HAZOV COURA - Alguém que vai prestar um vestibular para entrar numa faculdade com a qual sempre sonhou. Sob o efeito do antidepressivo ele pode se contentar com qualquer uma porque está contente por antecipação. A pessoa não espera o fato da vida acontecer para ficar contente. Já está contente por ação química. Então ela ou nem presta vestibular, como eu vi. "Para que vestibular?", pensa. Ou deixa de querer a faculdade que pretendia. 

ISTOÉ -Qualquer pessoa que toma antidepressivo passa por isso? Depende da dosagem, do tempo que se toma, de uma predisposição genética?
RUBENS HAZOV COURA - Isso nós não sabemos ainda. Mas ocorre com muitas pessoas. O mecanismo exato, que leva a essa indiferença, é uma das coisas que quero apurar em meus estudos atuais. Vi gente perder o emprego, empresários perderem a própria empresa... 

ISTOÉ - O sr. pode contar o caso de um empresário? 
RUBENS HAZOV COURA -Um deles, por exemplo, tinha uma empresa, com mais de 40 empregados, que funcionou muito bem durante anos. Depois de algum tempo, começou a ir mal e precisou se adaptar à situação econômica do País. Por conta disso, o empresário ficou deprimido e foi medicado com antidepressivo. Ele ficou mais contente, sem que nada no sistema da empresa dele tivesse mudado. Nada. Ele começou a não se importar mais com as queixas dos funcionários, com a queda nas vendas, com o sócio desleixado. E arrumava explicações para as coisas: "Ah, meu sócio está trabalhando mal porque ele está muito desgastado. Afinal ele é humano" ou "Os empregados estão insatisfeitos, mas hoje em dia eles reclamam muito mesmo?" Ele não fez nada para melhorar as coisas e perdeu a empresa. 

ISTOÉ - O empresário não se deu conta do que estava passando?
RUBENS HAZOV COURA -Ele tinha explicação boa para tudo. Estava muito otimista, diferente de antes. O antidepressivo deveria fazer ele aceitar melhor as deficiências da empresa para poder saná-las e não deixar que ele perdesse o negócio. 

ISTOÉ - Há outros casos? 
RUBENS HAZOV COURA - Havia um outro que passou a se desinteressar pela educação dos filhos, apesar de sempre ter-se preocupado com isso. Queria que o filho passasse em determinada faculdade, etc. e com o tempo começou a ficar indiferente a isso. 

ISTOÉ - Uma pessoa que tenha pavor da morte pode passar a sentir uma indiferença a ponto de achar que tanto faz viver ou morrer? 
RUBENS HAZOV COURA - Isso não deve ocorrer. A indiferença tende à alegria. A pessoa não vai pensar em pular do prédio. Vai pensar que não há com o que se preocupar, que a vida é boa. 

ISTOÉ - Qual o outro efeito nocivo? 
RUBENS HAZOV COURA - Ele se dá como se apenas uma parte da pessoa reagisse de forma não depressiva. Em psicanálise nós falamos que na depressão existe uma fúria sádica do sujeito contra ele mesmo, que o faz querer se autodestruir. O antidepressivo pode agir somente numa parte disso. Ou seja, a pessoa sai daquele estado triste, mas permanece a fúria sádica, só que não mais contra si, mas contra alguém próximo. 

ISTOÉ -O que é esta fúria sádica? 
RUBENS HAZOV COURA - É aquilo que leva o depressivo a se culpar. Ele se acha a pior das pessoas, acha que fez tudo errado, que agiu mal. Essa é a fúria sádica contra si mesmo. Sob o efeito do antidepressivo, ele pode ficar contente e essa fúria se voltar contra alguém próximo. 

ISTOÉ - Ele culpa alguém pelos males do mundo?
RUBENS HAZOV COURA - É como se outra pessoa, e não mais ele, tivesse de ser punida. Mas ele não fala isso claramente. 

ISTOÉ - É como se a destrutividade persistisse, só que voltada para o outro? 
RUBENS HAZOV COURA -Sim. E não era uma característica da pessoa antes de estar deprimida e tomar o medicamento. Passa a ser. Lembro-me de um paciente que começou a fazer de tudo para arruinar a vida da esposa. Ela trabalhava numa empresa dele e ele deu um jeito de rebaixá-la de cargo. Deu um jeito de o filho, que era o queridinho dela, ir para fora de São Paulo estudar no lugar mais longe que ele achou. Vendeu o título do clube que ela gostava e que ele sempre achou muito bom. Fazia tudo para restringi-la. Quando ele saiu da depressão, parou com tudo isso. 

ISTOÉ - Como o antidepressivo faz isso? 
RUBENS HAZOV COURA -De alguma forma ele pode melhorar só uma parte da depressão. Nesse caso que citei, a melhora seria ele não mais se julgar culpado de coisas que não fez. Voltar a fazer as coisas que gostava. Isso ele voltou, só que junto com isso passou a tratar a esposa assim. 

ISTOÉ - É fácil detectar esses distúrbios? 
RUBENS HAZOV COURA -  Numa consulta rápida não dá. Vai parecer que está tudo bem e na verdade não está. 

ISTOÉ - Como o sr. se deu conta dessas ações maléficas? 
RUBENS HAZOV COURA -  Por meio do acompanhamento prolongado dos pacientes e de uma observação mais profunda, percebendo o que o paciente refere, como ele refere. O paciente não fala delas. E não são claras até para o profissional porque a pessoa, afinal, não está mais deprimida. Não é simples perceber que aí pode haver algo de muito errado. 

ISTOÉ - Qualquer antidepressivo pode causar esses problemas? 
RUBENS HAZOV COURA - Provavelmente sim. Já vi com os novos (pós-Prozac) e com os clássicos. 

ISTOÉ - Os antidepressivos são ministrados de forma abusiva? 
RUBENS HAZOV COURA -  Sim. Não é só psiquiatra que prescreve. Em alguns locais do mundo, como Estados Unidos e Inglaterra, cerca de 60% das prescrições de antidepressivos são feitas por clínicos gerais, ginecologistas, cardiologistas, entre outros. No Brasil, provavelmente, é parecido porque não há estatística confiável que eu conheça a esse respeito aqui. 

ISTOÉ - Receitar antidepressivo deve ser exclusividade do psiquiatra? 
RUBENS HAZOV COURA - Claro, pelo conhecimento que ele tem da área. E não é qualquer psiquiatra. É o profissional que vai acompanhar o paciente ao longo de meses. Mas o que muitas vezes se vê aqui é assim: a pessoa tem uma receita e, quando acaba, pede para um médico qualquer ir renovando o medicamento. Ela vai fazer uma consulta num gastroenterologista e aproveita e pede a receita do antidepressivo que o psiquiatra passou há meses. Isso sem falar nas pessoas que se automedicam. Alguém que comprou o remédio, mas não quer tomar mais e dá a caixa para o primo, para o colega de escritório. 

ISTOÉ - Os antidepressivos são o segundo tipo de remédio mais vendido no mundo. Isso acontece porque realmente há milhões de pessoas deprimidas ou há também muito marketing? 
RUBENS HAZOV COURA -  Existem milhões de deprimidos, mas há influência da propaganda. Eu acredito que isso induz o paciente a extorquir do médico uma receita de antidepressivo. 

ISTOÉ - O médico colabora com essa extorsão porque cede ao pedido do paciente. 
RUBENS HAZOV COURA -  A maioria dos médicos tem boa vontade de atender. Não fica fascinada com medicamentos novos porque já viu medicamentos que prometiam muito e não cumpriam. A população é mais vulnerável a essa propaganda. Vejo entusiasmo dos leigos e não dos médicos. Como o médico vai negar uma receita para um paciente que está solicitando um remédio para melhorar, mesmo que ele não acredite muito no medicamento? 

ISTOÉ - Esse profissional não tem a consciência de que dando o antidepressivo ele pode não ajudar o paciente? 
RUBENS HAZOV COURA -  Creio que ele não saiba disso. Porque se a pessoa já vem tomando o medicamento e não fez mal, não deu efeitos colaterais, ele imagina que esteja indo bem. É um raciocínio aceitável. 

ISTOÉ - O sr. vê falhas nos diagnósticos?
RUBENS HAZOV COURA -  Sim. Há pessoas que sofrem de angústia, mas são tratadas como se fossem deprimidas. É claro que o resultado não pode ser muito bom. 

ISTOÉ - Qual a diferença entre a angústia e a depressão? 
RUBENS HAZOV COURA -  A angústia é aquela irritabilidade, nervosismo. A pessoa brava, impaciente, que não consegue se concentrar. Trata-se com tranquilizante e psicoterapia. Já o deprimido sente tristeza, melancolia. É uma pessoa mais quieta, parada, com falta de iniciativa. 

ISTOÉ - E o que pode acontecer com as pessoas que não têm depressão, mas tomam antidepressivos? 
RUBENS HAZOV COURA - Elas podem ficar mais angustiadas ainda. Dependendo do medicamento, ele pode ajudar um pouco na angústia, mas não tem o tratamento adequado. Não há uma melhora efetiva. Mas existe o oposto também. Pessoas que pensam em embelezamento, plásticas, musculação, e não percebem, às vezes, que estão escamoteando uma angústia, uma depressão. Fazem um verdadeiro culto da aparência. Por isso, você vê pessoas deprimidas, angustiadas, que vão cuidar do corpo. As mulheres, por exemplo, mais frequentemente, querem fazer uma plástica rejuvenescedora. Nunca ouvi falar numa mulher que, por estar mais jovem, bonita, com plástica, ginástica, musculação, consegue o que muitas vezes quer, que é um companheiro ou manter o marido. Não consegue. Aquela angústia, aquela depressão que está na base, impede que ela consiga. 

ISTOÉ - A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que um quinto da população mundial tem depressão e que a cada ano surgem dois milhões de novos casos. Como o sr. vê esses números tendo em vista os dois distúrbios que podem ser causados pelos antidepressivos? 
RUBENS HAZOV COURA - Esses dois efeitos têm de ser muito bem acompanhados. Mas eu pergunto: o paciente, seja ele quem for, tem de ser bem acompanhado ou não tem? Tem de haver um acompanhamento mais estreito. Tanto do psiquiatra quanto do psicanalista. Além disso, a pessoa não pode imaginar que só com um comprimido vai conseguir se livrar da depressão. Me parece ingênuo esperar isso. "Ah! a serotonina normalizou." Ela é apenas um dos neurotransmissores (substâncias que fazem a comunicação entre os neurônios) envolvidos no processo da depressão. Não é tudo. Querer resolver o problema sem psicoterapia, sem uma orientação estreita, me parece difícil. 

ISTOÉ - Como deve ser o acompanhamento do paciente? 
RUBENS HAZOV COURA -  Deve ser feito um acompanhamento rigoroso do paciente pelo mesmo psiquiatra que receitou o antidepressivo. A relação entre o médico e o paciente pode até alterar a dosagem do remédio. Se o paciente muda de médico rapidamente, ele costuma piorar e pode precisar até de uma dosagem maior. 

ISTOÉ - O paciente deve escolher um psiquiatra por quem tenha empatia? 
RUBENS HAZOV COURA -  Sim. Deve optar por um e ficar com ele. Não telefonar para a secretária e pedir para ela deixar a receita na portaria. Esse médico que ele escolheu precisa vê-lo com frequência e conversar bastante. Saber o que está se passando. Fora isso, esse mesmo paciente deve fazer uma psicoterapia bem-feita com um outro psiquiatra ou um psicanalista. 

ISTOÉ - O sr. acredita no tratamento da depressão sem antidepressivos? 
RUBENS HAZOV COURA - Da depressão grave é difícil. 

ISTOÉ - E para os outros tipos? 
RUBENS HAZOV COURA - Aí pode ser. Depressões não muito severas se beneficiam da psicoterapia, sem medicamentos. 

ISTOÉ - O sr. acha que os dois distúrbios que apontou podem ser evitados num paciente que conta com um acompanhamento adequado? 
RUBENS HAZOV COURA - Acredito que, desde que o profissional saiba da existência desses dois efeitos, eles sejam contornáveis. 



Desabafos da alma...


desabafo
Não há nada melhor do que poder encontrar como desabafar. Cada pessoa é de um jeito, muitas delas gostam de desabafar com amigos, outras gostam de desabafar com familiares, outras gostam de desabafar com o caderno, outras com o diário, outras com seu blog (no meu caso!) enfim, é tudo uma questão de desabafo que determinados momentos de nossa vida exigem e nos mostram nossas particulares dependências de boas palavras encaixadas no momento certo.
Nenhum acontecimento é por acaso, sempre devemos aprender um pouco mais com cada erro e conciliar os acertos para que não nos suba a cabeça este ar de superioridade de sempre acertar. Acertar é gostoso, errar é produtivo. Tudo o que vivemos no dia a dia serve de inspiração para outros momentos que chegarão com mais força ao longo dos anos, isto tudo fará de nós um pouco mais maduros e sempre com mais intuições de vida, as milhares de pessoas que conhecemos, os momentos em que estamos presentes na dor e na alegria, os casamentos, os namoros, os dias na escola, as festas e tudo o que há de melhor perto daquilo que se está acostumado a ver, tudo isto gera um tipo de desabafo que acaba saindo de uma forma natural, seja por gestos ou por meras palavras.